segunda-feira, 27 de julho de 2009

Viva o gás natural !

Um total de quatrocentos e vinte e cinco euros... Cortaram-me o gás alegando uma fuga na canalização. O teste da canalização foi feito quando o contador foi substituído por um novo. Contratei uma empresa para resolver o problema; o funcionário vedou as ligações junto aos equipamentos (fogão e esquentador) e verificou que o problema residia mesmo no circuito. Solução: encher os canos de gás com um produto vedante, esvaziar depois, e finalmente secar a canalização fazendo circular ar quente e seco. O ucraniano foi eficiente; no final dei-lhe uma gorjeta. Explicou-me que o gás propano era sujo e molhado e isso impedia fugas; o gás natural é limpo e seco, passando por qualquer brechasinha. O trabalho é garantido por dois anos. No final do trabalho o tipo ligou para os colegas da vistoria. O fiscal assentiu que estava tudo bem; fez-me pagar quarenta e dois euros. Tenho a obrigação de fazer uma nova fiscalização do sistema daqui a cinco anos. É melhor arranjar um porquinho.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Extremos

O Q. trabalhou dois anos em Barcelos e ontem foi buscar a sua "tralha", como ele diz. Convidou-me para o raide mas declinei: alugou um carro, partiu de manhã, almoçou em Barcelos, compactou as coisas e regressou a Lisboa. Há dois anos o Q. contou com o namorado para se instalar em Barcelos. Quando entregou o carro esta manhã fez sensação na rent-a-car: tinha feito 757 Km. Ele contou-me o episódio da agência. Ria-se e dizia, "se tivesse feito apenas 15 km. também ficariam intrigados e provavelmente pensariam que o carro tinha sido aliviado de peças"... Confirmaram que a roda sobressalente ainda morava no porta-bagagens. O Q. acha que o carro era velho porque tinha feito um ano em Maio passado; normalmente as agências mais importantes apenas têm carros com menos de 6 meses. O Q adora de cognac de champagne, mas isso não interessa.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Guterres: de volta?

O jornal Público traz hoje uma entrevista com o Eng. António Guterres. Fiquei com a impressão que o ACNUR está a tomar o pulso ao povo português. Concorrerá em 2011 contra Cavaco Silva? Pelo menos seria divertido.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Comunicação

There are neither transmitters nor receivers but only people responding to each other.

Jean Baudrillard, "Requeim for the Media" (p.182), in For a Critique of the Political Economy of the Sign, 1981, reimpresso in The New Media Reader, 2003.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A origem da resiliência

As emoções positivas ajudam e promovem saúde física e mental, sugere Frederickson (...). Dessa forma, as estratégias de intervenção devem priorizar experiências que promovam emoções positivas e que funcionem como uma espiral. Essas experiências ampliam o repertório de ações e pensamentos e constroem recursos pessoais que serão necessários ao longo da trajectória dos indivíduos. Segundo Frederickson, a resiliência configura-se como um recurso psicológico produzido pelas emoções positivas.

Simone Paludo e Sílvia H. Koller, "Psicologia postiva, emoções e resiliência" (p.75), in Débora Dalbosco Dell'Aglio, Sílvia Helena Koller e Maria Ângela Mattar Yunes (organizadoras), Resilência e Psicologia Positiva: Interfaces do Risco à Proteção, São Paulo, Casa do Psicólogo, 1ª edição, 2006, 289 p.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Humanismo?

Um casal idoso viaja no autocarro atulhado: um saco, uma pasta, papeis, um ramo de flores. Cai um envelope. O tipo ao meu lado estica-se todo, apanha o sobrescrito, devolve-o, e diz-me:
- O velhote ainda cai e lá aumentam os encargos do Serviço Nacional de Saúde!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nora Inu (Cão Danado)

Nora Inu é um filme de Akira Kurosawa de 1949, neorealista na linha de Ladri di biciclette de VIttorio de Sica. O detective Murakami (Toshirô Mifune) é vítima de um carteirista que o desaloja da sua Colt e o colega Sato (Takashi Shimura) ajuda-o a investigar o caso. Um ex-militar rouba e mata com a Colt. Murakami sente o drama do criminoso - ele próprio algum tempo antes poderia ter seguido outro caminho de vida. Sato é frio no combate ao crime. O crime é uma usurpação da consciência; o criminoso não justifica solidariedade. O angustioso Murakami contrasta com o fleumático Sato. Um bom serão na Cinemateca.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Pathos...

J. Pacheco Pereira falou hoje na FNAC do nosso mundo submerso no Pathos, e sem Ethos nem Logos. E também da falha das estruturas de mediação (jornalismo, sindicato, família, escola). Algures observou que o efeito mais pernicioso do salazarismo foi a censura, que ficou inculcada nas nossas cabeças - com a correspondente fobia pelo confronto. Bastante bom. A obra Estudos Sobre Jornalistas Portugueses (ICS) de José Luís Garcia teve apresentação de José Pacheco Pereira e de Adelino Gomes.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Estou chocada!

Para não se desiludir, preferia por vezes manter à distância aqueles de quem gostava, ignorando a crueldade da atitude.

Quando Margarida, a filha, regressou de Inglaterra, onde, muito jovem, fora fazer o doutoramento em Matemática, Laureano fez tudo para que ela não o fosse visitar. Tinha medo que ela tivesse voltado muito esquerdista, e que se zangassem à primeira discussão. Fizera tudo, aliás, para que ela não seguisse Matemática, receando que não conseguisse. Margarida empenhou-se em mostrar que ele estava enganado, concluindo a licenciatura com média de 17.

Talvez cultivasse o relacionamento com os que se prestavam a ser amigos imaginários, metáforas de si próprios. Dizem os psicólogos que os coleccionadores compulsivos sofrem de incapacidade de lidar com os outros. Se isso é verdade, os livros, metáforas perfeitas da vida, são a colecção ideal do filantropo solitário.

No entanto, Laureano tornou-se amigo de pessoas que admirava. Lagoa Henriques, Óscar Lopes, Costa Gomes, que foi seu colega de faculdade. O general era visita regular da Quinta da Fonte da Cova, até quando foi Presidente da República (Laureano chegou a enviar-lhe uma carta criticando-o pelas cedências aos comunistas), e o mesmo acontecia com vários intelectuais e artistas, alguns bem pouco convencionais, como Luís Pacheco ou Eugénio de Andrade. Nestes, o austero e rígido Laureano apreciava a liberdade e a capacidade de surpreender. Mas mais tarde ou mais cedo a tolerância levava à colisão.

Eugénio passava grandes temporadas na quinta. Sentia-se em casa e dava largas às suas muitos próprias jovialidade e loucura. Mas quando a mãe de Laureano morreu, não mostrou grande consternação, explicando simplesmente que não gostava de funerais.

Uma vez, numa festa, Laureano apresentou-lhe uma personalidade de Ponte da Barca, um sujeito baixo e gordo que sorria de deferência para com o poeta. Eugénio apertou-lhe a mão - "Muito prazer!" - mas ao mesmo tempo disse para o lado, alto e bom som: "Isto é um homem ou é um cagalhão?"

Foi de mais. Laureano cortou com ele relações, que só viria a reatar, décadas depois, pouco antes da morte do amigo.

Paulo Moura, "Laureano Barros: O homem que fugiu com uma biblioteca", jornal Público, 5 de Julho de 2009.